Viola caipira e contrabaixo dão tom camerístico ao repertório dos Beatles
Duo
formado pelo violeiro Neymar Dias e pelo contrabaixista Igor Pimenta
lança “Come Together Project”, com arranjos intimistas para canções do
quarteto inglês
Amigos
há 15 anos, quando o violeiro Neymar Dias e o contrabaixista Igor
Pimenta se encontram a conversa invariavelmente chega no futebol e na
música. Se no esporte o santista Neymar e o corintiano Igor nem sempre
concordam, na música seus interesses convergem em muitos pontos,
especialmente na paixão de ambos pelos Beatles. Como resultado dessa
beatlemania, a dupla apresenta “Come Together Project” (Borandá, 2015),
que após dois anos em desenvolvimento chega ao disco a partir do
Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo (Proac).
Por
se tratar de um projeto feito por fãs do quarteto inglês, o que
prevalece é um profundo respeito pela obra da banda, ao mesmo tempo em
que escapa da mera cópia estilo cover. “Fazemos uma espécie de redução
orquestral de viola e contrabaixo dos arranjos originais. Tem música que
a linha do baixo é a mesma usada pelo Paul McCartney, em outra eu faço
na viola a melodia do coro de vozes dos Beatles”, explica Neymar. “Para
extrair a síntese, tivemos que ser muito criteriosos. Fomos em busca do
boticário, aquela gotinha que resume o todo”, completa Igor.
A
ideia de “Come Together Project” surgiu em 2012, numa tarde em que
Neymar decidiu experimentar na viola algumas canções do quarteto inglês.
Foi escolhendo aquelas que realmente combinavam com as características
do instrumento, como por exemplo os temas em que fosse possível
aproveitar a sonoridade das cordas soltas. Depois de esboçar os três
primeiros arranjos para viola e contrabaixo, decidiu mostrá-los ao
amigo, que logo tornou-se parceiro na empreitada. “Os harmônicos da
viola combinam muito bem com o contrabaixo, às vezes parece que há
apenas um instrumento tocando”, destaca Neymar.
O
repertório foi construído com as canções que melhor se acomodaram ao
dueto instrumental. O álbum começa com “In my life”, numa versão
impregnada pela influência de Johann Sebastian Bach (1685-1750),
compositor pelo qual Neymar tem grande apreço. Se na gravação original
dos Beatles o produtor George Martin distorceu o piano para que soasse
como um cravo, a versão do duo remete ao “Concerto para dois violinos”
do compositor alemão. Bach surge também no final de “The long and
winding”, com uma citação da cantata “Jesus, alegria dos homens”.
O
disco segue com “Girl”, um dos raros momentos em que os músicos se
permitem improvisar. A dupla evita o esquema tema-solo-tema. O espaço
para a improvisação surge apenas quando a harmonia sugere o solo.
“Uma
calma roceira perpassa todo o disco”, escreve no encarte do álbum o
pianista e compositor André Mehmari. Esse tom interiorano é garantido
não apenas presença da viola, mas está na intenção dos arranjos e na
essência das próprias canções. Nas mãos do duo, temas como “And your
bird can sing” e “Mother nature’s son” parecem extraídos do universo
rural brasileiro.
“Apesar
de contarmos com uma formação com viola caipira, em nenhum momento o
objetivo foi inserir as canções dos Beatles no universo rural só por
conta da instrumentação. Quando isso aconteceu, foi de maneira natural,
pela força da melodia,” esclarece Igor. Aliás, a dupla evitou qualquer
adaptação que pudesse resultar caricata. “Não quisemos fazer um ‘Beatles
in viola’, fomos em outra direção”, completa Neymar. O instrumento
dialoga até com os “temas indianos” de George Harrison. Na introdução de
“If I needed someone”, quando o duo apresenta um medley com outras
melodias do compositor, o som da viola remete à cítara.
O
disco traz ainda as músicas “Hello, goodbye”, When I’m 64”, She’s
leaving home”, Can’t buy me love”, And I love her”, “Norwegian wood” e
Ob-la-di, ob-la-da”. Todas as canções do álbum são de autoria da dupla
John Lennon e Paul McCartney, com exceção de “If I needed someone”
(George Harrison).
Antes
de registrarem o trabalho, Neymar e Igor tocaram o repertório durante
dois anos em bares e pequenas casas de shows, o que contribuiu para o
amadurecimento do projeto. Na hora de gravar, precisaram de apenas dois
dias na Gargolândia, estúdio instalado numa fazenda no interior
paulista.
“Come
Together Project” é um retrato intimista dos Beatles, feito por dois
fãs que se apropriaram da obra de seus ídolos com devoção e criaram algo
novo, capaz de surpreender até o mais aficionado beatlemaníaco.
Valiosa contribuição de Marcelino Lima
Recomendadíssimo !
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TERRA BRASILIS
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Este cd ehh otimo pena estar off..poderia repostar
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