Por Nélio Rodrigues em Senhor F
Quando Jorge Amiden saiu do Terço,
em fins de 1971, não perdeu tempo em montar uma nova banda. Queria
recuperar o mais rápido possível o prazer que tinha de fazer parte de um
grupo, dar vazão a suas criações musicais e seguir fazendo o que mais
gostava. Assim, no início de 1972, seu novo projeto tomava forma e
adquiria um nome. Era o Karma, trio que, além dele (violão de 12 cordas e
tritarra), contava com Luiz Mendes Junior (violão) e Alen Terra, ou
Cazinho para os mais íntimos (baixo).
Ramalho Neto, executivo da RCA, apostava no talento de Amiden. Ele nem
se deu ao trabalho de conferir um ensaio do grupo. Assim que soube da
sua formação mandou avisar que já tinha um contrato pronto para ser
assinado visando o lançamento de um LP. Com todas as despesas pagas pela
gravadora, o trio se alojou num hotel em Friburgo para preparar o
disco. Com tudo pronto e devidamente ensaiado, convocaram o baterista da
Bolha, Gustavo Schroeter, e deram início as gravações, no Rio.
Carregando o nome da banda no título, 'Karma' chegou às lojas no
primeiro semestre de 1972. Na capa, a bela pintura criada por Bartholo,
com a imagem dos três portando seus respectivos instrumentos, lembra um
vitral. Ovalado na sua forma, e cercado por uma "moldura" quadrangular
ultra-estilizada, o "vitral" não resultou de uma criação artística
espontânea. Esse tipo de arte, historicamente ligado as igrejas, foi
reproduzida na capa do disco por inspiração das letras de Mendes Júnior,
repletas de alusões religiosas e/ou bíblicas.
- "Aqui na terra é a passagem / (...) / Pois você pode ir além daqui" ou
"Você está / (...) / No pingo d’água / (...) / Em um lugar qualquer /
No vento que soprou / A todo instante / Até o final" . Ou ainda:
"Adormece o brilho da paz / Nos verdes campos / Água e o sol e a vida se
faz / Vem ver aqui / Seu lugar eterno".
Ao definir o Karma, Ramalho Neto escreveu na contracapa: (O Karma é)
alma, espiritualidade, imortalidade, elevação, Índia, Londres,
Califórnia, New York, Rio de Janeiro, Ipanema, Gurus, Krishina, Amor
Maior, incenso, Forma, Cores, Som. No Brasil (o Karma) é tudo isto e
também muitos anos à frente do que virá musicalmente".
Hipérboles à parte, o disco seguia linha inteiramente distinta do
pop/rock feito no Brasil naquela época. Predominantemente acústico, com
belos arranjos vocais e canções igualmente envolventes ‘Karma’ é um
primor. São dez faixas, todas assinadas por Amiden, a maioria com
parceiros (Zé Rodrix, Mendes Junior, Alen Terra). Entre elas, o velho
sucesso do FIC, 'Tributo Ao Sorriso', previamente gravado pelo Terço. Em
'Karma', esta música de Amiden e Hinds ganhou uma leitura inteiramente
nova. É levada em a capela até quase o final, quando entram em ação os
instrumentos para finalizar esta obra lírica e pungente.
Vale ressaltar a participação de Gustavo Schroeter. Irretocával,
contundente e preciso Gustavo já era, de longe, um dos melhores
bateristas do pop/rock brasileiro. Quem também assumiu as baquetas em
duas faixas do disco foi Bill, ex-baterista de The Trolls, uma banda
formada por estudantes da Escola Americana, no Rio. Há ainda as
participações de Rildo Hora (gaita), Oberdan (flauta) e Yan Guest
(cravo).
Excelente disco !!!
Se vc gostou compre o original valorize a obra do artista.
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