A comunhão musical de Toninho Ferragutti e Marco Pereira
Instrumentistas registram em disco encontro da sanfona com violão
O violão e o acordeão talvez sejam os instrumentos mais populares do
Brasil. Ao longo de nossa história musical, foram marcantes na formação
de gêneros e estilos, e ainda hoje continuam presentes de Norte a Sul do
país. Marco Pereira e Toninho Ferragutti, dois dos principais
representantes desses instrumentos, agora se unem para provar que, em
dueto, o pinho e o fole permitem uma rica experiência artística. O
resultado desse encontro está no CD Comum de Dois, lançado com o selo da
gravadora Borandá.
O projeto teve início em janeiro de 2013, quando os músicos foram
convidados para participar da 31ª Oficina de Música de Curitiba. O
curador do evento, Sérgio Albach, sugeriu que a dupla realizasse um
concerto. A proposta acabou recolocando no palco amigos que há anos não
tocavam juntos. No começo dos anos 1990, em São Paulo, Pereira e
Ferragutti chegaram a formar um trio que tinha Swami Jr. no contrabaixo,
porém o grupo se desfez logo depois que o violonista se mudou para o
Rio de Janeiro.
A escolha do repertório foi feita em parceria, numa seleção que valoriza os temas autorais. "Eu adaptei as músicas dele para meu instrumento e vice-versa", conta Ferragutti. As únicas exceções são Caymmi x Nazareth (com releituras de Dorival Caymmi e Ernesto Nazareth) e Mulher Rendeira(Zé
do Norte), que já possuíam arranjos previamente escritos por Marco
Pereira. O violonista aparece como autor de três músicas – Amigo Léo, Flor das águas e Bate-coxa –, enquanto o acordeonista assina outras quatro: Flamenta,
Victoria, Nova e Sanfonema. "Nós temos uma identidade musical parecida.
O Toninho foi muito feliz na hora de batizar o disco. Cada um traz uma
bagagem própria mas, na hora em que tocamos juntos, tiramos da mala
aquilo que é comum dos dois", comenta Pereira.
Empolgados com o espetáculo de estreia, no Teatro da Reitoria da
Universidade Federal do Paraná, os músicos deram continuidade ao
trabalho numa série de concertos realizados no interior de São Paulo e
na capital paulista. A receptividade das plateias surpreendeu os
artistas por dois motivos."Em primeiro lugar, porque apenas duas
músicas do repertório são mais conhecidas do grande público. Em segundo,
porque, embora façamos música popular, utilizamos muitos fundamentos da
linguagem erudita", afirma o acordeonista.
A pequena turnê serviu como preparativo para a gravação do disco, que
foi produzido a partir de recursos do Programa de Ação Cultural do
Estado de São Paulo (Proac). "Se a execução de Marco integra a mão
direita de Baden Powell (1937-2000) à improvisação nervosa do bebop,
Toninho parece somar as tradições sulistas e nordestinas do acordeão ao
cool jazz de Miles Davis (1926-1991)", escreveu o violonista e crítico Sidney Molina, na Folha de S.Paulo, após concerto do duo na Sala do Conservatório, em São Paulo.
O violão e o acordeão são instrumentos completos – além de serem
melódicos e harmônicos, possibilitam desenhos rítmicos bem variados. "O acordeão tem aquele resfolego marcante do fole, enquanto o violão traz uma força percussiva no jeito de tocar", define
Pereira. Ao mesmo tempo, possuem características distintas que exigem
dos músicos um cuidado especial para que o dueto seja bem sucedido. A
intensidade sonora da sanfona, por exemplo, é muito maior que a do
violão, mesmo quando este vem amplificado. Portanto, a busca pela
dinâmica correta é tão importante quanto a fluência do andamento.
São esses desafios que deixam o diálogo musical ainda mais interessante. “Gosto muito do desenho rítmico que um prepara para o outro”, diz o acordeonista. É um dueto que permite a construção de uma harmonia densa com muitos contornos melódicos. "Unimos
a linguagem da música erudita europeia, a improvisação do jazz e a
articulação rítmico-melódica da música popular brasileira", esclarece o violonista.
Na definição do maestro Gil Jardim, "Pereira e Ferragutti são magos
que colocam o violão, o acordeão e a alma a serviço das ideias
musicais, das cores e matizes sem fronteiras, seja na música grafada ou
no calor da música improvisada".
Se vc gostou adquiri o original, valorize a obra do artista.
Contribuição Marcelino Lima
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