terça-feira, 27 de outubro de 2020

PAULINHO DIAS - IDEIAS DE AMANHECER

 


Me chamam Paulinho Dias, assim, no diminutivo. Talvez pela proximidade quase que sagrada com cada um que acrescenta em minha história. Na Vila das Tabuinhas em Boa Esperança, norte do Paraná, pelas mão de uma parteira em uma casa humilde foi onde as primeiras melodias em prantos me saltaram a boca. Fui moldado menino nas mãos do sr. Valter, e tive a essência bordada pelo amor materno de dona Neusa. Nessas traquinagens curiosas da vida, logo de estreia aos 11 meses, fui acometido pela paralisia infantil, treze dias após meus primeiros passos. Não por negligência, ou por falta de condições. Mesmo cercado de cuidados, o destino fez a danada me encontrar, mas de jeito nenhum parou o meu caminhar. Descobri o que era inclusão mais tarde, em casa não havia diferença no trato de meus pais entre mim e meus irmãos. Minha mãe dizia:

- "Descobriremos juntos nossas limitações." Com oito anos as muletas foram o apoio necessário para que eu pudesse traquinar com mais propriedade. Refúgio no alto da árvore, Jogo de bola, vidraça quebrada, bolinha de gude, perna engessada... Memórias de menino passarinho, que aprendeu com a vida seus limites, nunca por imposição, mas sim por descobertas. Somente anos depois, foi que descobri as angustias de minha mãe, do preconceito às restrições que o mundo poderia me impelir. Mas ai já era tarde. Ela me fez acreditar que eu era capaz. E eu acreditei. A vida simples e os recursos escassos da época desenvolveram a minha criatividade, que me levou a uma série de conquistas, até então, improváveis. Desde cedo, entendi o verdadeiro sentido da troca e da soma. Minha moeda de maior valor, as relações humanas. Uma pintura em uma camiseta para a professora de história, rendeu minhas primeiras aulas de violão com sua irmã, que ainda me conseguiu uma bolsa de estudos para cursar música. O ciclo de pessoas que acreditavam em mim só crescia, e nessa fé, fui calçando meu caminho. A música e o artesanato, ofícios que aprendi em paralelo com grandes amigos, me levaram à estrada, e nela, inúmeras influências de estilos musicais que vai das canções Andinas ao Rock n Roll, agregaram a minha formação artística. Assim, a lição que hoje norteia minha vida. Dividir experiências e somar culturas. Essa é a graduação na qual espero nunca me formar. Seguir aprendendo, cada dia mais é o que quero. Artistas notáveis, que encontrei na caminhada, foram pra mim grande escola. E a dona vida, levou-me por meio destes ao teatro musical. Fase de intenso conhecimento e aprendizado artístico. No final do primeiro milênio descobri a magia do teatro com a "CIA DE TEATRO FOZ", em Foz do Iguaçu (PR) e logo na abertura do segundo milênio parti pra Florianópolis (SC) ao lado de dois amigos que conheci na estrada, para uma audição do musical "Lendas da Ilha" com o cantor e compositor Oswaldo Montenegro, e uma nova etapa da minha vida começava. Foram ensinamentos que me fizeram crescer anos em poucos meses. E o registro dessa participação está em duas canções que interpreto no CD com a trilha do musical. Pouco tempo depois, em quando participava de outro musical em Joinville (SC), fui abençoado ao encontrar minha "Segunda asa" Priscila Castellar, uma linda atriz e talentosíssima cantora de voz encantadora, hoje minha esposa e parceira da vida.
  
Agora, o que seria capaz de me impedir o vôo? Nesta mesma época, Oswaldo Montenegro, nos trouxe para São Paulo, e há mais dez anos, sou convidado à atuar nos musicais e projetos sociais da "Oficina dos Menestréis", e em paralelos como a participação no filme "Belline e o demônio" (dirigido por Marcelo Galvão), faço parte da "Cia Mulungo" (Companhia criada por Oswaldo Montenegro com artistas de todo o Brasil para compor o musical Filhos do Brasil), e logo depois no filme "Solidões" roteirizado e dirigido por Montenegro. Em 2011 surgiu a necessidade de assumir e estabelecer meu trabalho musical autoral. Foi quando nasceu o show "Trilhas de um cantador" e junto com ele o primeiro CD, "Ideias de amanhecer". Um divisor de águas em minha carreira! Durante muito tempo, tive receio de mostrar minhas composições, acredito que pela exposição na qual minha música me coloca. É como abrir-se inteiramente diante das pessoas. No fundo confesso que tinha medo da não aceitação de tamanha entrega de mim para os outros. Mas, para minha surpresa, foi exatamente essa entrega que abriu espaço para minha obra, que foi recebida com o mesmo amor e sinceridade com que foi concebida. A chancela dessa acertada escolha foi um teatro lotado cinco dias antes da estreia! Uma plateia linda de 500 pessoas, na estreia do show "Trilhas de um cantador" produzido por mim e Priscila, sem apoio midiático ou grandes investimentos. Entre essas pessoas incríveis, estava meu pai - o Sr. Valter nunca havia me visto no palco - a emoção era tão intensa que entre músicas e histórias fizemos ali não apenas um show, mas um momento inesquecível. Uma verdadeira celebração naquela noite de primavera! Amadurecida a proposta do show, hoje este encontrou um propósito ainda maior. Em sua segunda edição foi o primeiro show nacional totalmente adaptado para deficientes auditivos, com interpretação das canções e diálogos em libras, e uma proposta sensorial em que o público recebe balões (bexigas de festa) para, através deles, sentirem todas as vibrações sonoras. Um show para ser sentido, prova que música vai além do simples ato de ouvir. Em todos esses anos tenho feito da arte meu caminho, e divido o que aprendi na vida em diversas vertentes de criação. Atualmente, sigo na caminhada musical, atuo também como ator de teatro e cinema, locutor publicitário, palestrante motivacional, professor de música, contador de histórias, criador e diretor de textos teatrais. Faço parte da Cia Mulungo de Oswaldo Montenegro e administro a empresa "A Segunda Asa - Desenvolvimento Humano" com minha esposa e sócia diretora Priscila Castellar. Na soma de toda uma vida me vejo artesão, na essência mais caseira do termo, visto que, minha obra musical e artística é a soma de tudo que sinto, vejo, ouço, aprendo e, por fim, transformo. Moldando cuidadosa e manualmente cada expressão, desejando que "meu canto abrace a todo aquele que puder alcançar". "Semear abraços musicais, tendo no amor a certeza de que TODO SER É CAPAZ". 

 Excelente disco !!!!!

Se vc gostou compre o original, valorize a obra do artista.

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TERRA BRASILIS