foto Marcelino lima |
Abro a porta da rua aqui no Solar da Lageado e a menos de quatro passos encontro uma pitangueira e uma amoreira carregadas de doces frutos tão ao alcance da mão que nem ginástica preciso fazer para me fartar. A quantidade é tamanha e todos os dias nova carga amadurece a ponto de muitas caírem ao solo e nos galhos ainda ficarem dezenas, à espera dos pássaros, de quem queira se servir em abundância; as palmas, os dedos, os lábios chegam a ficar tingidos, purpura-alaranjados; acreditem, até a Antonella, simpática cadela do vizinho, delicia-se comendo amoras! As duas frutinhas com sabor de infância e de mato, entretanto, são sazonais, brotam em determinados períodos e, fora deste tempo, não costumam haver safras temporãs.
Com a música, entretanto, a tendência é outra, sobretudo no segmento independente. Todo santo dia aflora um novo talento aqui e acolá, pitangas e amoras que muita gente ignora, acabam apodrecendo no galho ou, ainda verdes, derrubadas pelo vento ou pela chuva rolam pela sarjeta sem jamais terem sua docilidade apreciada, uma pena!
Mauri de Noronha é um destes artistas que convidam a gente a colher suas canções pitangueiras e a se manchar com suas poesias amoras. Natural de Garanhuns (PE), atualmente residindo em Aracaju (SE), ao lado do flautista Chico Pedro, do Raíces de America, Mauri de Noronha lançou no Espaço da Rosa Latino Americana (ERLA) em outubro do ano passado, De repente, um cantador, um álbum acústico simples e marcante, composto de 22 faixas que têm acompanhamento apenas do seu violão, das flautas e da gaita colombiana de Chico Pedro — instrumento muito utilizado para cúmbias.
Além de composições próprias, Mauri de Noronha também declama poemas que ele próprio assina com temáticas que transitam entre o Sertão e o mar, ilustram a beleza de ambos e conjugam como ponto forte o retrato sem pinceladas cosméticas das agruras, sofrimentos e aflições, as preces e as esperanças de um povo cuja pele o forte sol greta, o patrão, a polícia e o proselitista exploram e a estiagem espanta e mata sem poupar planta ou bicho – fatores geopolíticos que explicam uma realidade que não deveria ser aceita como calvinista, posto que é obra do descaso; ou sina do agreste e de seus homens, como dito em Assim se Assucede .
foto Marcelino Lima |
“A apresentação que faço com o Chico Pedro é acústica, a flauta acrescenta roupagem ilustre ao que e à forma que eu canto”, observou Mauri de Noronha. “Sou uma espécie de menestrel, embora o formato de meu violão não corresponda tanto àquele da Idade Média, quando os violeiros destacavam-se mais pela técnica”, prosseguiu. “Eu toco meu instrumento pela alma, sou mais cantador do que repentista”, explicou. “Adoro o repentismo e o modo de cantar de improviso, mas como dizem lá no Nordeste: sou poeta de caneta, ou seja, escrevo meus poemas e os coloco dentro de um contexto”.
Maravilhosa contribuição de Marcelino Lima
Se vc gostou adquiri o original, valorize a obra do artista.
Download
TERRA BRASILIS
senha/password
terrabrasilis
Nenhum comentário:
Postar um comentário