segunda-feira, 3 de agosto de 2015

CLAUDIO LACERDA - CANTADOR

A sabedoria da simplicidade
Para melhor apreciar o cantar e o tocar do paulistano Cláudio Lacerda, deve-se deixar o tempo de lado. Ao menos por alguns minutos, deve-se evitar que o relógio determine o passar das horas. Deve-se fazer do presente um aliado e com ele combinar um pacto: eu desacelero e você permite.
Cantador é o terceiro disco de Cláudio Lacerda. Independente, o álbum revela um modo de ser musical desconhecido, ou pouco familiar, dos urbanos. Para imaginar o universo interiorano descrito pela cantoria e pela letra de Cláudio Lacerda, revisitado em belas e ternas toadas tocadas por músicos da mais alta qualidade, deve-se ao menos buscar saber do cheiro do mato, do gosto do café recém-coado, do brilho vivaz da Via Láctea e do luar que faz sombra no chão da terra orvalhada.
E para falar de coisas claras, Cláudio tem no matulão a voz e o saber da simplicidade. Seus versos privilegiam a estrada, o caminhar... "(...) Por campo, serra, chuva e cheiro do mato/ Me abandono pelo estradão (...)", versos de Veneno Viola, parceria com Ighor Aguila; "(...) Eu vou em frente, pela estrada dessa paixão/ E simplesmente quero sua decisão (...)", versos de Decisão (com Julio Bellodi); "(...) Vou seguindo pela estrada, feito pneu de caminhão/ Cada reta um destino, cada curva uma ilusão (...)", versos de Estradeiro (com Zé Paulo Medeiros). Ou ainda "(...) Cada passo nessa estrada, eu sigo sem saber/ Deus mostra o caminho, mas quem caminha é você (...)", versos de Caminhador (com Zé Paulo Medeiros); e por fim, "(...) Saí do sertão bem menino, vagando, sem ter pr'onde ir/ Na estrada, na fome o destino, mais uma porteira pra abrir (...)", versos de Sina de Cantador (de Julio Bellodi).
São versos simples, cheios de força, plenamente identificáveis e reconhecíveis por quem já sentiu o ar que se respira numa trilha de chão batido ou por quem já viu o mapa do próprio destino traçado na poeira que levantava atrás de si.
Cantador de toadas, Cláudio Lacerda engrandece a voz ao dizer o que lhe toca a alma. Os arranjos de Sergio Turcão, nos quais não faltam viola, sanfona, gaita e violões com cordas de aço, são tudo o que o cantador precisa para entoar sua vida. Com voz suave, afinada, sem afetações, o cantor colore o seu mundo usando tintas vivas, banhadas em sol e em lua, em poeira e em estradas.
A participação de Dominguinhos em Canto Brasileiro (Eduardo Santana e Cláudio Lacerda) é aval em   forma de generosa contribuição por meio da sua voz e da sua sanfona, encontráveis apenas em... Dominguinhos.
Cantador é CD para ser ouvido com a alma plácida. Preferencialmente num final de tarde em que o sol convida a lua para sentar ao pé da fogueira. E assim a noite, não querendo inibir nem esfriar a prosa, retém nas mãos seu manto escuro e impede que se dilua o tom alaranjado que agora alumia a porteira lá no alto da estrada, aquela que se desfaz numa curva no final do caminhar.
Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

*se vc gostou compre o original, valorize a obra do artista.
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