terça-feira, 4 de outubro de 2016

CRIS AFLALO - SÓ XERÊM


“Só Xerêm” é o disco de estréia da cantora e compositora paulistana Cris Aflalo.

Um trabalho muito rico, que aponta pra muitos lados de uma vez só. No afeto, no rigor do artista na busca da sua expressão, na música, na seriedade da pesquisa, na alegria do canto.

E logo a primeira coisa que salta à vista é a cantora: como a Cris canta... E é essa cantora que canta como quem brinca – ela domina muito, muito o ofício… – é que nos traz toda a riqueza (e surpresa!) da obra desse multiartista cearense injustamente pouco conhecido da nossa geração, o seu avô Xerêm. Seus ritmos, melodias, a delicadeza da poética, sua nordestinidade, sua singeleza, sua molecagem. E de uma maneira pessoal, sem caricatura, ela traduz o regional com a sua própria bagagem musical urbana, contemporânea, paulista. Lidando com cultura sem perder a festa, a alegria.

A pesquisa, a concepção, a sonoridade
Junto com o violonista e produtor Luiz Waack (como produtor: Alzira Espíndola, Edvaldo Santana; como instrumentista: Itamar Assumpção, Marisa Monte, Arrigo Barnabé, Mauricio Pereira, entre outros), seu parceiro na produção deste disco, Cris se debruçou por mais de 6 anos sobre o vasto arquivo de Xerêm, de quase 300 obras. O processo de gravação tomou 3 anos, e foi meticuloso, saboreado.
O núcleo do disco é o jogo musical entre a voz de Cris e o violão de Luiz. É sobre essa forte unidade que 27 grandes músicos da cena brasileira, entre os quais o bruxo Hermeto Pascoal e Oswaldinho do Acordeon, vão colorindo, improvisando, adicionando suas impressões sobre o trabalho de Xerêm.
E o resultado foi esse: reler a música de raiz de uma maneira contemporânea, tanto nos arranjos quanto na sonoridade do disco. Sem nunca ferir a singeleza da obra de Xerêm, a alegria do canto da Cris, a expressividade intensa dos músicos convidados.

O Repertório
Ouvindo e cantando, ouvindo e cantando. Por esse método infalível pro artista (porque passa sempre pelo coração) Cris chegou ao repertório final do disco. São 13 canções, 7 das quais inéditas.
Entre as regravações, destaque para “Mamãe Baiana”, que foi sucesso na voz de Aracy de Almeida, e “Soca Passoca”, de Xerêm e Capitão Furtado, seu parceiro de músicas e programas de rádio. Entre as inéditas, pérolas. “Pisa no Pilão” já decreta a alegria do disco, e quem canta com Cris é o próprio Xerêm, através de fitas originais reprocessadas no estúdio. “No Automóvel Não” é um samba carioca e maroto feito em parceria com o famoso comediante Zé Trindade, com quem Xerêm trabalhou no cinema. “Ainda me lembro” é uma parceria com o grande sanfoneiro Pedro Sertanejo. Hermeto Pascoal faz uma participação muito especial em “Lamento do Sabiá”.
Mais duas inéditas fecham o disco: a delicada “Alegria Comigo Mora”, com a participação de Oswaldinho do Acordeon, e “Raymunda Patuá” onde alguns ruídos usados (rojões, bicharada) faziam parte da sonoplastia de Xerêm em seus programas de rádio.
Quem é Xerêm
Imagine o Brasil nos anos 30, 40, 50. Imagine um cearense que desde criança já era artista e estava na estrada com a trupe de sua família, a Troupe do Pequeno Edson. E aos 20 anos no Rio, e do Rio para todo o Brasil.
Um artista que tocou, cantou, atuou e apresentou programas nas grandes rádios como a Nacional, a Tupi, a Mayrink Veiga, a Piratininga, a Bandeirantes, ao lado de grandes nomes como Capitão Furtado, Alvarenga e Ranchinho, César Ladeira, Ademar Casé.
Um artista que atuou no teatro de revista, ao lado de astros como Dercy Gonçalves, Oscarito, Brandão Filho, Eva Todor.
Imagine que esse artista é também um compositor, sendo parceiro de nomes como Capitão Furtado, Pedro Sertanejo, Zé Trindade, Joracy Camargo, e tendo sido gravado por artistas como Aracy de Almeida, Alvarenga e Ranchinho, Moreno e Moreninho, Zé Trindade, Dilú Mello. 
E imagine também que esse artista foi também ator de cinema, tendo trabalhado com Alvarenga e Ranchinho, Zé Trindade, Walter D’Avila, Jararaca e Ratinho. Pois esse é o avô da Cris, o multiartista cearense Xerêm (*1911 - +1979).
Mauricio Pereira



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