quarta-feira, 13 de março de 2019

MACIEL MELO - OUTRAS TRILHAS


O cantor Maciel Melo pegou um atalho na sua trajetória e, agora, revela faceta diferente do forrozeiro, autor de Caboclo sonhador - grande sucesso da carreira que ficou famosa nas vozes de Fagner e Flávio José. Aos 55 anos, Maciel vive fase nova de descobertas. Ele fez uma tatuagem, deixou o chapéu de lado e incrementou o figurino com pulseiras e anéis. Mais pop, o cantor nascido em Iguaraci, no Sertão Pernambucano, apresenta Outra trilha, disco independente, que foi lançado primeiro em São Paulo.

No novo trabalho, Maciel percorre sonoridades até então inéditas, como toada, baladas e o country, dialogando sempre com o forró. Inspirado por Bob Dylan, a primeira faixa gravada foi Negro amor, uma versão de all over now, baby blue composta por Caetano Veloso e Péricles Cavalcanti. A partir daí, ele rebuscou suas anotações e construiu o repertório. "Passei uma fase ouvindo Bob Dylan e percebi uma ligação forte entre o country norte-americano e a música sertaneja do Nordeste. Tava na intenção de produzir um trabalho um pouco diferente do que vinha fazendo até hoje, afirma.

Outra trilha é composto por 12 faixas e foi lançado apenas nas plataformas digitais. A estratégia é explorar as novas ferramentas para driblar as dificuldades como artista independente. "Minha intenção é tentar levar esse trabalho para o Sudeste e fazer uma música que possa penetrar lá. Algo que seja mais abrangente, mas tenha minha personalidade, a linguagem sertaneja, a sanfona, muita corda e a poesia". O forró está presente na linguagem, na poesia e no sotaque. As participações também foram escolhidas a dedo, como nas faixas Malabares (o gaitista Flávio Guimarães), Canarinho verde (Jaques Morelenbaum e seu o violoncelo), Esperando por setembro (Marcos Suzano e seu pandeiro) e No infinito do azul, letra em escrita com Renato Teixeira. Esta não é a primeira vez que Maciel passeia em novos horizontes. Em 2014, ele lançou Perfume de carnaval, um disco em homenagem a Carlos Fernando, divulgado durante os festejos de Momo.

Apesar de satisfeito com o resultado, Maciel garante que não está se afastando do forró. "Os puristas vão criticar. Mas não estou saindo de canto nenhum. Fui dar um passeio fora. Estou indo buscar outros elementos para trazer algo novo de volta". Durante o processo de criação, o compositor passou a escrever poesia e prosa, compartilhando nas redes sociais. "Acabei saindo do padrão da estética de letra de música e virou prosa. Postei no Facebook e senti a resposta do povo. Passei a postar todo dia", conta. O material será transformado em livro, ainda sem título, com previsão de lançamento para novembro.

Entrevista Maciel Melo // cantor
http://www.diariodepernambuco.com.br

Qual a proposta do novo trabalho?
Nunca entendi isso de discriminar que forró é uma coisa e MPB é outra. Para mim, tudo é música brasileira. Estou sentindo essa música carente de letra. Os temas usados na música, hoje, são muito banais. Estamos precisando de alguém, não necessariamente eu, que possa botar linguagem diferenciada. Não sei se vou conseguir. Estou adorando o disco. Fiz o disco para mim. Quem quiser gostar, que goste, quem quiser comprar, que compre, quem quiser ouvir, que ouça. Essa fase de escrever bastante está me ajudando. 

De onde surgiu a ideia de um trabalho diferente do que está acostumado?
No começo da minha carreira, tinha uns 20 anos, e fazia esse tipo de trabalho. O forró estava começando a fazer "pornografia". Senti que os textos estavam caindo de qualidade. Como sertanejo e filho de forrozeiro, me vi na obrigação de contribuir de alguma maneira. Deixei de lado a cantoria e deu certo. Não imaginava que daria. Foi quando estourou Caboclo sonhador e fui ganhar dinheiro com isso. Agora, estou voltando, porque acho que o forró está numa fase difícil, principalmente no Nordeste. Não há valorização do forró pela juventude. A música sertaneja está invadindo de uma maneira que o espaço está ficando estreito. Chega uma hora que você cansa. Acho que quem vai salvar a música nordestina é o Sudeste. A juventude de lá adora. Eles valorizam esse trabalho que fazemos aqui.

E o forró vai estar presente nos seus shows? 
Ele está por inteiro. Eu sou forrozeiro e não vou deixar de ser. É uma coisa que me faz bem, que me deu tudo que eu tenho hoje. Não posso abandonar de jeito nenhum. Tem que estar perto dele. Dei uma saidinha apenas para buscar elementos e trazer de volta. 

Você acompanha a música feita atualmente?
Eu não estou acompanhando, eles estão me obrigando a ouvir. Em todo canto toca, na TV, no carro de som, nas rádios, só toca isso. O cara vai tomar cachaça, coloca aqueles "paredões" no carro, liga o som, abre a porta-malas, põe aquela música de péssima qualidade e acha que o todo mundo é obrigado a ouvir. Hoje em dia, raramente vou "biritar" em um bar. Você chega nos restaurantes e encontra 20 televisões passando DVD dessas porcarias. A maioria nem música são. A qualidade é tão ruim que não tem adjetivo. Não gosto, não curto e não quero nem saber. Vou ouvir o que eu gosto. Se isso for nostalgia, não importa. Gosto de Chico (Buarque), Milton (Nascimento), Paulinho da Viola, Jackson do Pandeiro. É tudo imposição colocada pela mídia, imposto do Sudeste para cá. O cara chega no (programa do) Faustão e diz que toca forró. Eles impõem um modelo de tudo: de modelo de educação. Por exemplo, ficam incentivando as pessoas que ser gay é normal e todo mundo tem que ser. Sua família vai ter que seguir isso porque é a moda, é normal. A música vai ser essa, vamos empurrar isso aqui. O sertanejo tomou conta do Brasil todo. Os caras agora estão começando a cansar e agora são as duplas de mulheres, ao invés de dupla de homem. Aí depois inventa o arrocha, que é horrível, mas dá audiência.

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TERRA BRASILIS

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