Quando falamos em produção musical brasileira do agora, pensamos em
estilos, discursos e tendências valorizadas pela mídia cultural, que
procura determinar aquilo que é contemporâneo e inovador ao público.
Para ser deveras inovador e contemporâneo não é proibido, entretanto,
olhar para trás e mergulhar na fonte do que se produziu nos tempos
antigos. Sobretudo depois que a internet facilitou o acesso a ela,
através de arquivos completos, raros e inéditos, de compositores e obras
populares que, até pouco tempo atrás, jamais imaginaria um jovem músico
em formação poder conhecer a fundo e fundamentar os alicerces de seu
trabalho nesses insumos do passado.
Formado por jovens na faixa dos vinte e poucos anos, o grupo Pitanga em Pé de Amora
demostra como é possível fugir desse lugar comum da canção popular
atual, através de uma produção colaborativa em que todas as referências
musicais aprazíveis ao seus músicos são propostas sem a obrigatoriedade
em seguir padrões pré-estabelecidos.
O trabalho coletivo norteia o cancioneiro do grupo, aonde os
integrantes, (Angelo Ursini, Daniel Altman e Ga Setúbal, todos eles
multi-instrumentistas), se revezam na autoria das composições letradas
por Diego Casas, que além de letrista titular, também faz junto com
Flora Popovic e Daniel Altman o vocal da maioria das canções.
O caráter colaborativo abrange não só a criação musical, mas também a
performance do grupo no palco, evidente no rodízio de instrumentos
musicais que se dá ao término de cada música – é um tal de alfaia pra
lá, escaleta e caxixi pra cá, baqueta e violão acolá –, sobressaindo a
espontaneidade e o improviso de um time centrado em sua vocação: fazer
uma música bonita e envolvente de se acompanhar, com letras simples que
celebram histórias pitorescas, as melodias e o amor, tal como a temática
naïve de um Chico Buarque que falava no alto de seus vinte anos de
jovialidade o tempo passado na janela que carolinas e januárias deixavam
de ver.
Marchinhas carnavalescas, tangos nazarethianos, baiões e jongos,
desprovidos daquele conservadorismo em se manter o estilo tradicional
dos ritmos, se misturam de maneira natural com discursos jazzísticos e
de vanguarda, tanto na riqueza das canções como nos elaborados arranjos
que pontualmente abordam todas essas referências – a exemplo do que
Guinga e todos os seus seguidores já provaram ser um caminho viável.
Zé Carlos Cipriano
O DISCO
Gravado nos estúdios Gargolândia e Cachuera!, o álbum contou com a
produção musical de Swami Jr. Além dos cinco integrantes, muito outros
músicos participam do projeto em diversas faixas. São eles: Lulinha
Alencar (Piano); Fi Maróstica (Baixo); Douglas Alonso; Alê Ribeiro
(Clarinete; Shen Ribeiro (Flauta); Will Bone (Trombone). Além deles, a
faixa Ceará ainda conta com a participação especial da cantora Monica
Salmaso e do flautista Teco Cardoso.
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TERRA BRASILIS
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