Paulo Rubens Gimenes nasceu e mora em Franca. Tem 50 anos, é casado e
pai de duas filhas. Formado em Comunicação Social pela Unifran,
profissionalmente atua na área de produtos para calçados e no mercado
publicitário. Já assinou vários jingles em Franca e região. O cotidiano
atribulado não impede que Gimenes arrume tempo para atuar na área
artística em suas duas paixões: a música e a literatura. Na música, foi
atuante nos Festivais de Música do Estado de São Paulo e lançou dois
CD’s , Letra e Música, em 2008, parceria com o músico Tunico Magno, e
MCB- Música Cidadã Brasileira, lançado de forma independente em 2012 e
relançado com o apoio da Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo em
2014. Mesmo na área literária Paulo não abandonou sua paixão pela
música; sua primeira obra - o livro de poesias Poemas para Cantar,
Músicas para Ler (2010) vem acompanhado de um CD que demonstra o belo
processo de transformação das poesias em canções. A mesma fórmula, um
livro/cd, é usada em seu mais recente trabalho O Poeta e o Cantadô/ Uma
Odisseia Caipira. Atuando em áreas artísticas como a literatura, num
país onde pouco se lê, e na música regional, fora do contexto comercial
atual e estando longe dos grandes centros culturais do país, a
produtividade do artista chega a impressionar. A quem possa interessar,
Paulo Gimenes dá a dica: “Vivo adaptando para minha vida o conto de
fadas A Cigarra e a Formiga. Na fase de criação de uma obra alimento a
‘cigarra/dom’ e quando vou viabilizar o projeto, concretizar o sonho,
alimento mais a ‘formiga/trabalho’”. Paralelo aos seus projetos, Gimenes
ainda escreve para oeste caderno Nossas Letras do Comércio da Franca e
revistas regionais, compõe jingles, cria campanhas publicitárias e está
sem
A população cresce, migra do campo para os centros urbanos, busca
trabalho nas cidades cada vez mais inchadas. Mas leva consigo, tanto
quanto as histórias ouvidas de pais e avós, um jeito de falar que, no
caso deste nordeste paulista, tem muito do sul de Minas Gerais. Pois até
não dizem que Franca é um pedaço de São Paulo ocupado por mineiros?
Nossa prosódia é o atestado cultural mais expressivo desse intercâmbio
de experiências. É ela, tratada de forma literária, que caracteriza o
estilo de Paulo Gimenes, pesquisador interessado no falar de segmentos
de nosso povo que ainda se mantêm impermeáveis às influências da prosa
citadina, contaminada por diferentes fatores . Grande mestre da
Filologia, dos maiores nomes da Etimologia no Brasil, o saudoso
professor João Alves Pereira Penha, com quem muitos universitários
francanos aprenderam a pensar com mais profundidade os fenômenos
linguísticos, já escrevia nos anos 80 a respeito deste fenômeno que é a
evolução mais lenta do idioma nos rincões afastados. Um de seus livros
registra o fato linguístico que é a fala caipira, de que as histórias
curtas de Gimenes são exemplares. Reproduzo os dois primeiros parágrafos
do conto que abre o livro:
“Dizem que os caipira, que os contadô de causo, é tudo mentiroso. Que
mardade! Pura ingnorância do povo da cidade, dessa gente que não
querdita, que acha que tudo é lenda, tudo crendice popular(...) Imaginem
ocês que saci-pererê, lobisome, boitatá, pr’eles é tudo um tar de
forclore, que o boto nem num vira home formoso, que vai pros baile da
roça de terno de linho branco e chapéu e que tira as donzela pra dançá,
que enfeitiça as donzela, que encanta as donzela inté a donzela deixá de
sê donzela. Dizem que é mentira pra cubri as sem-vergonhice das moça.”
A supressão do fonema s nos plurais; a subtração do r e do m finais; a
troca do som l pelo r; a elisão do v no pronome de tratamento você ,
que vem evoluindo desde o século XVIII a partir da forma vosmicê , por
sua vez oriunda do quinhentista vossa mercê- são alguns dos exemplos
clássicos desse nosso português que ainda evoca longínquos traços
arcaicos. Junto a este resgate linguístico importante, o autor
empreende a busca de histórias que se mantêm permeando o imaginário
popular e revelam heranças europeias, africanas, indígenas. O tom
coloquial, de quem bate um papo descontraído, é característica
expressiva da prosa do autor, que avança em criações pessoais e alça
voos românticos em Marlene e Piolim; constrói metáforas frescas em Amigo
é planta; faz crítica social em Dia de Faxina; investe em memórias
líricas no bem estruturado Eu tinha um tio...O humor também é traço
estilístico importante ao contribuir para a leveza de contos de tom
fortemente autoral como O doce do capeta, Pode fumar lá no céu?, O
padre sem paciência , A geringonça que guspia dinheiro, Papai matou uma
assombração , Os fantasmas Bilevis, entre vários.
Um conto clássico, com sua estrutura linear e ordem cronológica, ganha
maior valor na forma como é contado. Por isso se diz que todo contador é
um poeta que sabe inscrever nas entrelinhas uma emoção específica.
Paulo Gimenes é a maior expressão desse aforismo que transparece no
título de seu recente lançamento.
Os trinta e sete contos e alguns poemas que compõem O poeta e o
cantadô/ Uma odisseia caipira, leem-se com o mesmo prazer com que se
ouvem as 15 canções do CD que acompanha o livro e resultam de felizes
parcerias do autor com artistas conhecidos dos francanos, como Tunico
Magno, F. Jaiter, M. Prado, I. Brasil. Tiago Leitonez, Grupo Balaio,
Canário e Passarinho.
A capa, linda pelo poder sugestivo, traz a assinatura de Vítor Fonseca e
ajuda a compor as áreas imagéticas do universo buscado pelo autor. E
nunca é demais lembrar a etimologia tupi da palavra caipira, presente no
título e no espírito da obra. Ela nos remete diretamente para o morador
do mato. Mas um mato que, no momento histórico do registro, já não era
mais selva e sim mata. Aquela onde foram engendrados os antepassados dos
protagonistas da maioria dos contos de O poeta e o cantado. Cada conto é
uma conta no colar que é a odisseia relatada pelo autor.
pre disposto a enfrentar desafios que exercitem sua criatividade
artística. Sônia Machiavelli
Se vc gostou adquiri o original, valorize a obra do artista.
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